O enfermeiro acredita na capacidade de superação dos indivíduos frente as desavenças da vida, mesmo porque, existem evidências científicas que mostram a contribuição da saúde para a qualidade de vida das populações.

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Jul 09

 

 

 

 

Esquecidos...

 

ASSIM NÃO DÁ! ASSIM NÃO VAMOS LÁ...

 

 Enf. Jorge Franco

 

A actual crise mundial que vivenciamos esta sendo marcada pela globalização, que se traduz em uma maior interligação e interdependência entre os povos, tornando mais facilmente evidente suas fraquezas e vulnerabilidades frente a mudanças. O Instituto de Apoio ao Desenvolvimento afirma que o mundo globalizado é caracterizado pela crescente interdependência e que os fenómenos resultantes afectam “toda a ordem internacional”. (1)

Esse momento de instabilidade que se atravessa assinala a ganância daqueles que sempre deram prioridade a concentração de riquezas e ao consumismo despropositado, que são alicerçados por modelos desenvolvimentistas ameaçadores não só do ambiente, mais principalmente da dignidade humana. Estes modelos tendem a excluir a solidariedade, pois fomentam a diferença, criam desemprego, elevam o nível de pobreza tornando-a verdadeiramente extrema principalmente entre populações menos favorecidas, gerando o aumento da desesperança e a exclusão social. A própria OMS (2) já se manifestou recentemente e alertou para a importância de se estar vigilante para o aumento do desemprego, possíveis falhas nas redes de protecção social e diminuição dos gastos em saúde. No que pode vir a se traduzir em um possível retrocesso no já escasso financiamento directo aos programas internacionais de saúde pública para os países que mais precisam. Todo este mal-estar prolificado traz inevitavelmente consequências desastrosas a vários sectores da sociedade, incluindo o da saúde, devido a sua sensibilidade, representatividade e complexidade que o seu conceito alargado observa.

A Organização Pan-americana de Saúde afirma que as implicações de longo prazo da globalização se estendem muito além da economia e da liberalização e eliminação das barreiras comerciais. “A globalização é um propulsor crítico, complexo e incerto das transformações económicas, políticas, ambientais, sociais, culturais, tecnológicas e cognitivas, mudando a vida, o trabalho e o lazer e provocando tensões que afectam a sociedade de maneira fundamental” (3).

Apesar de alguns autores afirmarem que a globalização teve seu auge a partir da segunda guerra mundial, o termo só se popularizou em meados dos anos 80 e rapidamente passou a ser associado a aspectos financeiros (4).

A definição de saúde proposta pela OMS (9), situação de perfeito bem-estar físico, mental e social, apesar de estar sendo muito criticada por considerarem um conceito utópico e ultrapassado, parece que vem de encontro com que se pretende, que é sinalizar e alertar para possíveis alterações neste domínio. Em reunião consultiva realizada em Genebra sobre a crise que enfrentamos, a OMS (2) chama atenção para o possível aumento das doenças mentais, ansiedade, consumo de tabaco, álcool e outras substâncias nocivas que são características de momentos difíceis.

Na qualidade de autoridade directiva e coordenadora de acções sanitárias no mundo, a OMS vem trabalhando incansavelmente de maneira a alertar e sensibilizar os povos para o combate as injustiças e para os possíveis desencontros com a saúde.

Em 1977, a 30ª Assembleia Mundial da Saúde constatou que a visão “Saúde para Todos no Ano 2000 era uma importante meta social para os governos, organizações internacionais e comunidades. Em 1978, a Conferência de Alma-Ata (8) adoptou os Cuidados Primários de Saúde (CPS) como estratégia chave a implementar em todos os países do mundo, para melhorar o nível de saúde das populações e alcançar a meta. Porém, muitos países não foram capazes de atingir os objectivos estabelecidos, o que levou a realização da Cimeira do Milénio no ano de 2000. Esta reuniu vários dirigentes mundiais que firmaram compromissos para um mundo mais próspero, equitativo e estável. Temas como o desenvolvimento sustentável, direitos humanos, a igualdade de género e o carácter multidimensional e transversal da pobreza, do ambiente e da saúde integraram os debates. Ao final do encontro todos os 189 estados membros das Nações Unidas, inclusive Portugal, se comprometeram em atingir até o ano 2015 os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que servem como guias para o desenvolvimento sustentável e o combate a pobreza. Dentre estes objectivos estão: 1) erradicar a pobreza extrema e a fome; 2) atingir o ensino primário universal; 3) promover a igualdade de género e a capacitação das mulheres, 4) reduzir a mortalidade infantil; 5) melhorar a saúde materna; 6) combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças; 7) garantir a sustentabilidade ambiental; 8) criar uma parceria global para o desenvolvimento (1).

É importante observar que muitos dos ODM estão ligados a saúde e bem-estar da mulher e da criança, o que explica que em 2005 o Relatório Mundial de Saúde tivesse como tema “para que todas as mães e crianças contem”. Este relatório chama atenção para o abrandamento e até mesmo o agravamento da situação de saúde materna e infantil em muitos países do mundo. Destaca que essa estagnação está associada à pobreza, às crises humanitárias, principalmente nas regiões da África Subsariana. A elevada mortalidade existente, principalmente nessa região já assolada por doenças como o HIV/SIDA, crises financeiras, deficiências técnicas e humanas capazes de responder ao problema, aliado aos conflitos existentes em diversas regiões, agrava ainda mais a situação.

 

A UNICEF tem constantemente chamado atenção para as atrocidades e abusos cometidos em mulheres e crianças nesses países em conflito, porém, parece ser uma emergência invisível e silenciosa para os mais “distraídos”. Em seu relatório Acção Humanitária 2009 afirma: “todos os dias morrem mulheres e crianças devido a doenças, à pobreza e à fome, mas lamentavelmente a maior parte das suas mortes passa despercebida.” (5)

A mesma UNICEF através do Relatório de Machel de Junho de 2009 afirma que todos têm um papel a desempenhar e apela para que se intensifiquem esforços no sentido de proteger todas as crianças afectadas por conflitos. Sublinha que os conflitos ofendem os direitos das crianças: “o direito à vida, o direito à unidade familiar, o direito à saúde e à educação, o direito à protecção contra a violência e abusos, e o direito a receber assistência humanitária”. (6)

O Relatório Mundial 2005 identifica que a falta de profissionais qualificados e principalmente a inexistência ou a ineficácia de programas de acompanhamento tem gerado intervenções pouco atempadas que permitem que muitas “mulheres arrisquem a vida para gerar novas vidas”. É claro quando coloca que o problema não está na necessidade de se adquirir tecnologias sofisticadas, e sim na urgência de se estar no lugar certo e no momento em que as pessoas mais precisam. Para que isso aconteça é necessário mais investimento, acompanhamento, continuidade dos cuidados, transferência de informações/orientações adequadas aos pais ou responsáveis para que estes participem detectando precocemente problemas e buscando de imediato assistência. É necessário que a transferência dos serviços de saúde maternos para os infantis sejam optimizados pois, “ os grandes riscos de vida começam logo que se nasce, mas não desaparecem quando os recém-nascidos se transformam em bebes maiores e depois jovens crianças”. (7)

O documento reforça a importância de cuidados de saúde de proximidade, porém diz que este deve estar bem articulado com os cuidados mais centrais (hospitais de maior porte) para que as respostas sejam rápidas, precisas e eficazes. Aborda a urgência de profissionais de saúde qualificados para melhorar os serviços de saúde maternos e infantis e incute a ideia de equidade, pois identifica “a exclusão como aspecto chave da iniquidade, bem como o principal entrave ao progresso”. (7)  

Hoje já não existe mais a possibilidade de se viver isolado e esquecer simplesmente o que acontece a nossa volta. O mundo globalizado encurtou os espaços e nos deu a oportunidade de conhecermos e vivenciarmos realidades diferentes, sejam elas boas ou más. Facto que nos leva acreditar que devamos unir cada vez mais esforços para resolver os problemas, mesmo porque, amanhã estes ou as suas consequências baterão as nossas portas.

O enfermeiro pode ajudar, não só actuando no terreno onde as desigualdades se fazem presentes como alertando organismos locais e população sobre qualquer situação que seja nociva para a saúde.

 

Bibliografia

1- Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) - Uma Parceria Global para o Desenvolvimento – Contribuição de Portugal para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Edição: MNE / IPAD / Direcção de Serviços de Planeamento. Julho de 2008. Consulta 2009-04-25Disponível: http://www.ipad.mne.gov.pt.

2 - CHAN, Margaret - La crisis financiera y la salud mundial. Organização Mundial de Saúde (OMS). 2009. Consulta 2009-04-25 Disponível:

http://www.who.int/dg/speeches/2009/financial_crisis_20090119/es/index.html

3 – Organização Pan-americana da Saúde – 26ª Conferência Sanitária Pan-Americana. Washington, D.C. EUA, Setembro de 2002. Consulta 2009-05-30 Disponível: http://www.paho.org/portuguese/gov/csp/csp26-10-p.pdf 

4 – GUERRA, Sidney - A quarta onda globalizante e os desafios para o direito internacional. Revista da Faculdade de Direito de Campos, Ano IV, Nº 4 e Ano V, Nº 5 (2003-2004). Consulta 2009-04-25 Disponível: http://www.fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revistas/Revista04e05/Docente/17.pdf .

 

5 - Unicef Portugal – Relatório de Acção Humanitária 2009. Disponível: http://www.unicef.pt/artigo.php?mid=18101114&m=5&sid=1810111414&cid=3893

6 - Unicef Portugal – Relatório de Machel. Junho 2009. Disponível: http://www.unicef.pt/18/09_06_16_pr_machel+10_strategic_review.pdf

7 – Relatório Mundial da Saúde –“ para que todas as mães e crianças contem”. Organização Mundial da Saúde 2005. Disponível: http://www.who.int/whr/2005/media_centre/overview_pt.pdf

8 – Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) Declaração de Alma Ata. Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde. Alma-Ata, URSS, Setembro de 1978 OPS. Consulta 2009-05-03 Disponível: http://www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Alma-Ata.pdf

9 – Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) – Carta de Ottawa. Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde. Ottawa, Novembro de 1986 OPS. Consulta 2009-04-28. Disponível: http://www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Ottawa.pdf

 


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