Enf. Jorge Franco
Uma pequena experiência de saúde baseada em uma realidade observada…
O Bairro Quinta da Fonte está situado na freguesia da Apelação Conselho de Loures.
Em meados de 1996, após a criação do Plano Especial de Realojamento, muitas pessoas que residiam nos chamados “bairros de lata” na área de Lisboa e arredores foram alojadas no local. Dentre os beneficiados pelo processo estão os imigrantes de minoria étnica, provenientes principalmente de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola, Timor além da população cigana.
O Bairro é visto por muitos como de difícil acesso a cidade de Lisboa. Muitas pessoas reclamam do isolamento, o que gera sentimentos de diferenciação e exclusão. Existem relatos de que os próprios moradores que residem na parte mais baixa da freguesia (zona antiga) foram contrários ao realojamento dessas pessoas. A própria Divisão Municipal da Habitação da Câmara Municipal de Loures concluiu que “ (…) a concepção de modelos residenciais para acolhimento das populações proporcionando-lhes condições de higiene, conforto e privacidade, não resultam na inversão dessa condição de pobreza. Por outras palavras, essas comunidades não ganharam qualquer espaço na escala social ascendente, mantendo-se descriminadas e com baixo status” (1).
Ao abordar os moradores verificasse que são pessoas carentes de atenção e compreensão. Muitos reclamam que estão longe de tudo e de todos e que ninguém se preocupa com essa situação. Acham que estão em desvantagem com relação ao resto da freguesia, visto a fragilidade da rede de transportes e a falta de equipamentos e serviços.
No bairro nota-se certa debilidade financeira que é característica do diminuto poder de consumo da população, até porque, muitas pessoas encontram-se actualmente em situação de desemprego. Se percorrermos o bairro observamos diversas lojas fechadas e outras até mesmo abandonadas, lixo largado em locais inapropriados, ruas sujas, entre outros problemas, o que mostra o pouco interesse de alguns e dos próprios pelo local.
A inexistência de espaços e equipamentos suficientes destinados aos jovens é outra questão. Existe um número considerado de jovens que por falta de ocupação e/ou actividades desportivas e culturais ficam praticamente o dia inteiro nas ruas o que acaba gerando sensação de insegurança para os menos habituados.
A saúde como sempre é afectada por essas situações visto poder ser interpretada pelo reflexo que a pessoa tem de si frente ao ambiente físico e social que a envolve, mesmo porque, saúde e ambiente são inseparáveis.
Segundo a OMS na Carta de Ottawa (2) “Não se pode isolar a saúde de outros interesses. Os elos indissolúveis entre a população e o seu meio constituem a base para uma abordagem socio-ecológica da saúde”.
A Ordem dos Enfermeiros coloca que “o ambiente no qual as pessoas vivem e se desenvolvem, é constituído por elementos: humanos, físicos, políticos, económicos, culturais e organizacionais, que condicionam e influenciam os estilos de vida e que se repercutem no conceito de saúde. Na prática dos cuidados os enfermeiros necessitam focalizar a sua intervenção na complexa interdependência Pessoa/Ambiente” (3).
Atentando ao que foi referido podemos dizer que não é só de um “teto” que as pessoas necessitam. É preciso que se observe as características da população e que se associe a habitação propiciada serviços públicos de qualidade, emprego, mobilidade, espaços verdes e de laser, escolas, oportunidades/actividades de interesse aos jovens para que ocupem seus tempos livres, comércio dirigido as necessidades, entre outras.
É importante que se crie um espaço físico e social verdadeiramente harmonioso e sustentável capaz de promover a interacção do indivíduo ao meio fazendo com que as pessoas se orgulhem e cuidem do lugar onde vivem.
A Conferência de Sundsvall (4) identificou muitas formas e exemplos de criar ambientes favoráveis que podem ser usados por quem estabelece as políticas e toma as decisões, assim como, pelos activistas comunitários nas áreas da saúde e do ambiente. A conferência reconhece que todos têm um papel na criação de ambientes favoráveis à saúde. Chama atenção a políticos e responsáveis por tomadas de decisão em todos os sectores relevantes e a todos os níveis. Defensores e activistas da saúde, ambiente e justiça social deverão formar uma aliança alargada, visando o objectivo comum que é Saúde para Todos.
Sabemos que todos nós vivemos realidades e oportunidades diferentes. Porém, devemos estar atentos aos mais desprotegidos, praticando a inclusão e repudiando a todo o custo a exclusão, mesmo porque, segundo AMADO (5) a exclusão social “ (…) pode vir a implicar privação, falta de recursos ou até mesmo ausência de cidadania”
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BIBLIOGRAFIA
1 - Comissão Social Inter-freguesias de Camarate, Prior Velho e Sacavém - Diagnóstico Social das Freguesias de Camarate, Pior Velho, Sacavém. Setembro de 2005. Disponível: http://www.cm-loures.pt/RedeSocial/Diagn%C3%B3stico%20Social%20CSIFCPS.pdf.
2 - 7- Organização Pan-americana de Saúde – Carta de Ottawa. Primeira Conferência Internacional Sobre Promoção da Saúde. Ottawa, Novembro de 1986. OPS. Disponível: http://www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Ottawa.pdf
3 - 8- ORDEM DOS ENFERMEIROS - Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem: Enquadramento conceptual; Enunciados descritivos.
Disponível: http://www.ordemenfermeiros.pt/
4 - OMS - 3ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde - Declaração de Sundsvall sobre Ambientes Favoráveis à Saúde. Sundsvall, Suécia, Junho de 199.
5 – AMADO, Rogério Roque – A exclusão social hoje. Instituto S. Tomás de Aquino. Cadernos do ISTA Nº 9.Disponível: http://www.triplov.com/ista/cadernos/cad_09/amaro.html.