O enfermeiro acredita na capacidade de superação dos indivíduos frente as desavenças da vida, mesmo porque, existem evidências científicas que mostram a contribuição da saúde para a qualidade de vida das populações.

23
Fev 10

 

 

 

Enf. Jorge Franco

Leite materno é o alimento mais adequado e recomendado para os bebés.

Os pequeninos parecem que já sabem e procuram, na primeira oportunidade, se “abarrotarem” desse alimento rico e gratuito.

São vários os estudos que atrelam o aleitamento materno a uma vida saudável. Salientam o seu poder na prevenção e combate às ameaças externas, mesmo porque, o leite materno é rico em factores imunológicos como anticorpos, macrófagos, neutrófilos, linfócitos, lactoferrina, lisosima e factor bífido que protegem a criança (1;9).

A amamentação além de nutrir, proteger e favorecer o desenvolvimento físico e cognitivo dos bebés, favorece a criação de um forte vínculo afectivo entre mãe e filho, onde laços de amizade e confiança são construídos e fortalecidos. Logo podemos afirmar que a amamentação não só proporciona nutrientes essenciais. É um momento único e rico de carinho, afecto, doação e troca. É uma condição básica para o estabelecimento de vínculos emocionais. É uma prática natural com repercussões futuras.

Muitos são os estudos de John Bowlby sobre a teoria da vinculação. Destacam a necessidade humana de estabelecer ligações afectivas de proximidade ao longo da vida, tendo o objectivo alcançar a segurança que permite explorar o “self”, os outros e o mundo; os pais são os co-autores da vida de seus filhos, preenchendo lacunas, projectando o futuro.

Existem pesquisas que mostram que 90% das mães portuguesas iniciam o aleitamento materno. Contudo, essas mesmas pesquisas evidenciam que “quase à metade dessas mães desistem de amamentar muito precocemente”, o que mostra que a grande parte não consegue cumprir o seu projecto de dar de mamar aos seus bebés (2).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) (9) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade e associado a outros alimentos até os dois anos ou mais. É clara quando diz que leite materno contém tudo que a criança necessita até os seis meses, não sendo necessário qualquer complemento alimentar salvo recomendações de técnicos de saúde altamente capacitados. Coloca que introduzir outros alimentos, antes dos seis meses, pode causar alguns prejuízos para a criança e cita: “maior número de episódios de diarreia; maior número de hospitalizações por doenças respiratórias; risco de desnutrição; menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como o ferro e o zinco e redução na duração do aleitamento materno.

LAMOUNIER, citado por Amorim e Andrade (3) refere que quando alimentos complementares são introduzidos antes dos 6 meses de vida, a criança passa a ingerir menos leite humano o que pode trazer riscos como alergias alimentares, aumento da taxa de morbimortalidade e uma maior incidência de doenças crónicas/degenerativas na idade adulta.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (4) disponibiliza um esquema para introdução dos alimentos complementares.

Faixa etária                                                    Tipo de alimento

Até completar 6 meses:             Aleitamento materno exclusivo

Ao completar 6 meses               Leite materno, papa de fruta, papa salgada, ovo, carne

Ao completar 7 meses               Segunda papa salgada

Ao completar 8 meses               Gradativamente passar para alimentação da família

Ao completar 12 meses             Comida da família

Fonte: Adaptação da Sociedade Brasileira de Pediatria (2006)

Muitos países conseguiram reduzir a taxa de mortalidade infantil (TMI) através de programas de imunização mais eficientes, identificação e tratamento atempado de infecções, melhoria na oferta de atendimento/acompanhamento pré-natal e pós-parto e principalmente através da inclusão de programas educativos promotores do aleitamento materno (5).

Como é sabido as mamas são estruturas complexas compostas por tecido glandular “glândulas túbulo-alveolares” constituídas por lóbulos. Estes últimos são formados por alvéolos que têm finalidade à produção de leite. Durante a gravidez as mamas aumentam de tamanho, as aréolas ficam mais escuras e as veias mais visíveis. O sistema de ductos (canais) aumenta e diferencia-se assim como os alvéolos, lóbulos e lobos. Nos primeiros dias pós-parto a produção de leite é pequena, porém é rica em proteínas e tem menos gorduras se comparado com o leite produzido a partir do sétimo ao décimo dia pós-parto. É importante que durante a amamentação a criança esvazie bem a mama visto que o chamado “leite posterior” contém mais calorias e por isso satisfaz mais o bebé. Além de um local tranquilo, um posicionando adequado e uma boa “pega” por parte da criança é recomendado que seja fornecido o alimento sem restrições de horários e de tempo - “amamentação em livre demanda”. Uma boa pega requer um abocanhamento não apenas do mamilo como também da auréola formando assim um lacre perfeito.

                                                                 

Estudos realizados evidenciaram que o uso da mamadeira (biberão) e da chupeta favorecem o desmame precoce e podem ser uma fonte de contaminação. PALMER (6) considera que o uso da chupeta está associado a uma maior ocorrência da candidíase oral, otite média e de alterações do palato.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) (7) destaca quatro pontos-chave que caracterizam o posicionamento e pega adequados:

Posicionamento adequado

1. Rosto do bebé de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo;

2. Corpo do bebé próximo ao da mãe;

3. Bebé com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido);

4. Bebé bem apoiado.

Pega adequada

1.Aréola visível acima da boca do bebé;

2. Boca bem aberta;

3. Lábio inferior virado para fora;

4. Queixo tocando a mama. 

Para haver uma óptima produção de leite é necessário que a mãe esteja bem nutrida e hidratada. É muito comum observar um aumento do apetite e um maior consumo hídrico, devendo este não ser exagerado. No caso das mães vegetarianas é importante alertar para importância de ingerir proteínas e vitaminas em quantidade suficiente.

Alguns estudos citam algumas recomendações para as mães nesta fase:

- Consumir dieta variada, incluindo pães e cereais, frutas, legumes, verduras derivados do leite e carnes;

- Consumir três ou mais porções de derivados do leite por dia;

- Esforçar-se para consumir frutas e vegetais ricos em vitamina A;

- Certificar-se de que a sede está sendo saciada;

- Evitar dietas e medicamentos que promovam rápida perda de peso (mais de 500g por semana);

- Consumir com moderação café e outros produtos cafeinados.

O comportamento dos bebés é muito variável, visto serem diferentes uns dos outros. Cada um tem sua própria personalidade, sensibilidade, vivenciam momentos diferentes, tanto durante a vida intra-uterino como durante o parto, e tem direitos específicos assegurados. A Declaração de Barcelona sobre os direitos da mãe e do recém-nascido de 2001 refere que o recém-nascidoé uma pessoa com direitos específicos, que ele não pode exigir por si próprio devido à sua imaturidade física e mental. Estes direitos impõem obrigações e responsabilidades à sociedade, que as instituições legislativas e executivas de todos os países devem reforçar. É um ser livre, com dignidade, com direito à vida e a cuidados de saúde adequados, que lhe permita um óptimo desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social”.

 

O enfermeiro tem o papel de facilitador do processo de transição para maternidade. Desenvolve competências globais e específicas com o intuito de ajudar a mãe a delinear um projecto de maternidade eficaz. Utilizando linguagem simples e acessível, este técnico incentiva e apoia o aleitamento materno; procura diminuir a insegurança, desconforto, sofrimento e sentimentos de incompetência; detecta precocemente situações de risco e garante uma assistência multidisciplinar rápida e segura; promove espaços para troca de ideias e sentimentos, esclarecendo dúvidas, ajudando ultrapassar obstáculos/dificuldades; têm em atenção a história, os hábitos, costumes, as particularidades de cada um e uma visão ampla da saúde; orienta para práticas fundamentadas em bases científicas. Segundo a UNICEF 2002 (7) os enfermeiros devem estar ao lado da mãe, orientando-a no início do aleitamento materno e ajudando-a na busca de soluções para suas dúvidas.

Estes profissionais também estão atentos às crianças com necessidades especiais, mães e bebés em situação de vulnerabilidade, sobretudo em questões complexas como maus-tratos, negligência, abandono ou qualquer outra situação de perigo eminente. Procuram responder de forma adequada e rápida orientando-se segundo os princípios éticos e deontológicos da profissão, em conjunto com outros profissionais de saúde e instituição, observando atentamente leis e recomendações específicas como por exemplo a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, entre outras.

A família é a primeira célula de socialização dos indivíduos. É um espaço emocional e afectivo. É o primeiro ambiente que prepara verdadeiramente o homem para a relação com o seu semelhante. (8)

Durante suas intervenções assistenciais/educativas, o enfermeiro deve procurar incluir às pessoas mais significativas para a gestante/puérpera, como o companheiro, a mãe, os filhos mais velhos, entre outros, para que estes possam ajuda-la de forma segura em momentos de dificuldade.

A OMS (9) disponibiliza alguns recursos muito utilizados no aconselhamento e um plano de actuação:

- Praticar não só a comunicação verbal como também à não-verbal (gestos, expressão facial, entre outras).

- Remover barreiras como mesa, papéis, promovendo uma maior aproximação entre a mulher e o profissional de saúde;

- Usar linguagem simples e acessível;

- Dar espaço para a mulher falar. Para isso, é necessário dedicar tempo para ouvir, prestando atenção no que a mãe está dizendo e no significado de suas falas.

- Demonstrar empatia, ou seja, mostrar à mãe que os seus sentimentos são compreendidos, colocando-a no centro da situação e da atenção do profissional;

- Evitar palavras que soam como julgamentos, como, por exemplo, certo, errado, bem, mal, etc.

- Aceitar e respeitar os sentimentos e as opiniões das mães, sem, no entanto, precisar concordar ou discordar do que ela pensa;

- Reconhecer e elogiar condutas correctas realizadas pela mãe.

- Oferecer poucas informações em cada aconselhamento, prendendo-se a situação do momento;

- Fazer sugestões em vez de dar ordens;

- Oferecer ajuda prática;

- Conversar com as mãe sobre as sua condições de saúde e a do bebé, explicando-lhe todos os procedimentos e condutas. 

O plano de actuação deve incluir nos seguintes níveis:

- Promover um crescimento e desenvolvimento adequado ao recém-nascido;

- Educar a família para que proporcione ao lactente nutrientes suficientes para crescer prevenindo a desnutrição, obesidade e alergias;

- Estruturar o ambiente para o desenvolvimento das interacções da criança com o meio;

- Desenvolver nos pais capacidades para cuidar a criança, promovendo a saúde e prevenindo a doença.

Para finalizar é importante que todas as mães estejam conscientes da importância do aleitamento materno nos primeiros meses de vida; que sejam incentivadas e devidamente informadas sobre seus direitos; que existam políticas de saúde claras de promoção ao aleitamento materno, principalmente nos países onde persistem taxas assustadores de mortalidade infantil; que os sistemas de informação em saúde forneçam dados precisos para priorização de necessidades; que os técnicos de saúde recebam formação adequada a ponto de sentirem capacitados para prestar uma assistência totalmente livre de riscos; que a saúde seja um tema dominante nos diferentes discursos sociais e políticos e que todas as crianças sejam consideradas não só parte do processo produtivo da espécie humana, mais também o resultado de uma maturação psicológica influenciada pelo ambiente social, cultural, económico, político, geográfico…pelo mundo.

 

 

Bibliografia

1- GRASSI, M.S; et.al - Fatores imunológicos do leite humano. Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil Pediatria (São Paulo) 2001. Disponível: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/532.pdf

2- UNICEF/Comissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés - Manual de aleitamento materno Comité Português. Edição 2008 Depósito Legal: 176764/02 ISBN: 96436 Disponível: www.unicef.pt/docs/manual_aleitamento.pdf

3-AMORIM, M.M; ANDRADE, E.R. - Atuação do Enfermeiro no PSF sobre Aleitamento Materno. Vol 3, Nº 9, 2009. Disponível:

www.perspectivasonline.com.br/.../volume%203(9)%20artigo9.pdf

4-Sociedade Brasileira de Pediatria -Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola. Departamento Científico de Nutrologia. 2006. Disponível:

http://www.sbp.com.br/img/manuais/manual_alim_dc_nutrologia.pdf

5-Informe de Atenção Básica – Mortalidade Infantil Ano 1, Agosto 2000. Disponível:

6-PALMER, B. - The influence of breastfeeding on the development of the oral cavity: a comentary. J. Hum. Lact., [S.l.], v. 14, p. 93-8, 1998.

 

7-UNICEF - Como o leite materno protege os recém-nascidos. Documento sobre o mês de amamentação. Disponível:

http://www.aleitamento.org.br/arquivos/arquivos.htm.

8-D’AGOSTINO, F - Elementos para una Filosofia de la Família, Madrid, RIALP 2002

9-Ministério da Saúde - Saúde da Criança: Nutrição Infantil. Cadernos de Atenção Básica Nº23. Brasília, Distrito Federal. 2009. Disponível:

http://www.portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cab.pdf

 

10-DINIZ, R.L.P. Avaliação do Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno do Hospital Geral César Cals um Hospital Amigo da Criança em Fortaleza – Ceará. (Dissertação de Mestrado). Fortaleza-CE, 2003. Disponível: http://www.esp.ce.gov.br/paginas/Dissertações_Teses/AvaliacaoProgIncentivoAleitamentoHGCC.pdf.

11-Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo - Lei n.º 147 / 99 de 1 de Setembro.

12-Mercer, R. (2004). Becoming a mother versus maternal role attainment. Journal of Nursing Scolarship. 36(3), p. 226-232.

 


Olá Enfermagem Aberta!
Gostei muito do artigo.
Parabéns.
Patricia a 19 de Março de 2010 às 00:56

muito bom seu artigo, esta de parabens.
Enfermagem a 30 de Agosto de 2011 às 15:35

parabens fiquei emocionada com o video, continuem com essa linda msn
maria de lourdes jaborandy a 6 de Julho de 2012 às 13:40

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